domingo, 26 de outubro de 2008

um poético canteiro de palavras, ou de como a Jawaa falou do nosso livro


«Eu gosto muito de flores.

De todas as flores, da orquídea à urze. E o que nelas mais me seduz é a cor, sobretudo. As cores, a textura, o brilho, o bordado delas. Como elas afrontam o sol, como elas se entregam. Como elas se escondem, se protegem dele, algumas enrolando as pétalas na hora de maior calor, outras fechando-as pela noite, dando os bons dias logo ao primeiro sorrir do senhor da luz.

Minha mãe passava horas do seu dia plantando, regando, cortando, limpando as folhas. Tinha dedo verde, tudo o que plantava, pegava, crescia, floria. Aliás, gozava duma intimidade com as flores que ia além da razão. Comigo nunca funcionou: sempre que pretendi ler delas uma mensagem, não anunciaram o que interpretei, e assim desisti. Também não gosto de mexer na terra, senti-la secar nos dedos; incomoda-me, tal como a farinha, é uma sensação desagradável.
Mas a magia das flores permanece e surge em flashes no meu pensamento agora.
Os cosmos em volta da casa nova, antes das novas construções. Os canteiros de gipsofila do quintal, das gerberas, as selhas dos craveiros, as buganvílias ao longo do ferro forjado no muro. A exposição anual de dálias na minha cidade. A época das «bonecas», recolhidas na caça às perdizes, flores cor de terra, de corola em bola redonda constituída por pétalas longas e compridas como cabelos. A profusão de plantas na varanda larga da fazenda, as sardinheiras, a trepadeira de «gaitinhas» que o Rui Pestana me fez reencontrar. A minha primeira chegada à Ilha da Madeira – nos Idos sessenta – o esplendor das coroas olhando-nos em cada recanto da estrada no meio do verde, as estrelícias como pássaros em voo quieto no alto da Ilha. E as rosas do jardim, lá e aqui.

As palavras também são flores.

Flores que sempre admirei e que agora, com mais tempo, também vou semeando, nem sempre sozinha. E os jardins se fazem com elas, plantas verdes, árvores, flores mais singelas, pedras e água correndo. Assim, plantando o que temos – 12 sementes apenas – cresceu no Eremitério o nosso primeiro jardim. E porque cresceu bonito, vamos apresentá-lo a todos, vaidosos que estamos, no próximo dia 22 de Novembro às 16:00 horas, no Palacete Balsemão, à Praça Carlos Alberto, no Porto.»

Jawaa